quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Um jardim!

Sejamos francos e sem rodeios. No Brasil (não vou nem falar neste momento do que extrapola as fronteiras do nosso território nacional!) não é fácil ser mulher e a coisa complica muito se ela é negra. Para quem gosta (e precisa) do apoio das estatísticas está tudo comprovado em números, em gráficos, em mapas de norte a sul, dos institutos mais renomados aos trabalhos acadêmicos de graduação mais recentes. No entanto, para nós que vivemos literalmente na pele esta realidade desde que a primeira africana pisou o solo brasileiro, os pesquisadores poderiam ter economizado na busca o latim rebuscado e as contas complexas. Nós sempre soubemos.



Muita gente conseguiu escapar do manto da invisibilidade que as "histórias oficiais" sempre tentaram e todavia tentam nos jogar em cima para resistir bravamente com luta, arte, fé e atitude. Esse desconhecimento em tempos de tanta facilidade de acesso a informação é assustador. Temos uma pálida e distorcida ideia do nosso passado e desta forma, muita dificuldade para construir o nosso futuro.

Me incomoda deveras que minha filha e meu filho cresçam achando que a liberdade de que gozam hoje não foi conquistada por gente que arriscou o pescoço e sim concedida tenha sido lá com que interesse fosse. Me incomoda que não nos reconheçam como atores principais dos nossos avanços e limitem nossas crianças a história tão tímida (e vez por outra mentirosa) que é apresentada sobre elas mesmas nas escolas. Desta forma, tento aqui modestamente fazer a minha parte.

O Flor da Cor quer apenas ser mais um espaço a contar um pouquinho sobre essas moças, senhoras, idosas, adolescentes, algumas praticamente crianças, que ousaram e ousam sair do lugar subalterno a que uma parcela muito significativa da sociedade acreditava e ainda crê que devemos ocupar, como coadjuvantes das nossas próprias vidas. São mulheres do passado e do presente que formam um jardim, um imenso jardim de flores da cor!


Em tempo! Quem quiser mergulhar nas estatísticas, clique aqui e veja algumas bem ilustrativas do boletim de fevereiro do Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Estatísticas e Sociais das Relações Raciais do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LAESER), coordenada pelo economista Marcelo Paixão. As mulheres ganham até 60% a menos que os homens nas regiões metropolitanas do país, mas a mulheres negras seguem na base da pirâmide social ganhando menos ainda em qualquer função. 


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